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ENTROPY AND TRANSFORMATION
curatorial project by
Rui Soares Costa
exhibition I
Rui Horta Pereira
exhibition II
Simão Costa
exhibition III
Tiago Casanova
Entropy and Transformation - Or how a set of artistic interventions in a vacant space can help us answer the fundamental question of contemporaneity: Where do we go from here?
The only constant is change.
Heraclitus
Let’s make no mistake, change is ubiquitous - is, was and will always be. Even the most stable elements in the universe comprise change. For example, there is an ongoing discussion regarding the laws of physics – what we could call the epitome of stability – and whether they might have changed across the history of the universe or, even further, if they ever existed altogether.
In fact, history is nothing more than a set of changes. Not linear change but nevertheless a continuous one. There were moments in which this change was quick, although often it took a very slow, almost imperceptible form. The pace, or rhythm of change can be seen as a proxy for human activity. Mankind hasn’t always been this fast-moving dynamic entity. Quite the contrary, for hundreds of thousands of years humans, and the way humans organized themselves, changed little and, more importantly, at a very slow pace. This change over thousands and thousands of years had little impact in the surrounding context – e.g., ecosystems and meteorology.
Then came a set of revolutions - from the earlier neolithic/agriculture revolution to the more recent scientific/industrial revolution - and the world changed quickly. With a history of about three hundred thousand years, all the major, radical or significant transformations involving humans took place in the last twelve thousand years, moreover, in the last two hundred.
We got ourselves into the most dynamic and frantic period ever lived by humans. A proxy to the intensity of this change is the graph plotting human population over time. Human population changed little and slowly until these revolutions, specifically the industrial revolution two hundred years ago that triggered an exponential population boom. This recent period, also called great acceleration given the fast, quick and impetuous development, led us to a moment where we, as a species, have caused/are causing imbalances in several of the systems of our planet (from mass extinctions to climate change).
In-Between: The unsustainability of the imbalances
The imbalances caused by human activity are, by definition, unsustainable. And they are not subtle. Never in the past have humans created dramatic changes in these global systems, at a global scale. Despite having the ability to destroy ourselves and most of life on the planet (e.g., nuclear Armageddon), humans have always kept the key to such potential devastating threat. That is, this has always been a potential threat, given that it is up to us to decide whether to go down that rabbit hole or not. However, the existential threat posed by the ongoing imbalances on the global systems caused by the human activity of the past two hundred years is not a potential threat. It is not a scenario, one among others. It is reality and we don’t have a key to this problem.
Far from the announced end of history, we are currently at the most important moment humans have ever faced. This liminal status, a suspension before a radical, major change can define contemporaneity. There is, still, a significant part of the world that keeps trying to do business as usual, pushing the problem forward, magically expecting it to go away. Then, there are those who actively search for alternatives. Where do we go from here?
It is at this liminal moment that contemporaneity and TAJ meet. The planet and a space with 40 square meters. A space as a metaphor that encapsulates the biggest question of our time, where do we go from here. TAJ was something else and now lies in a threshold, a transition, a limbo, where creativity will determine what will happen in the future.
For the curatorial project we searched for this in-betweenness. Artists that are one thing and another – artists in-between –, artists that go beyond the borders of a discipline. A sculptor that works mostly with drawing, a photographer that does photographic sculptures and a musician that draws with sound to create sound objects. In-betweenness as a process.
Where do we go from here?
Where do we go from here? Who will inhabit this space? What will they experience? While at the uncertainty limbo we invited three artists to intervene in this space, to elucidate this path of waiting in the in-betweenness of states (liminality), the moment of inspiration and decision which always necessitates letting go of certain possibilities (epiphany), and the beginning of new forms taking shape (emergence).
We begin with Rui Horta Pereira’s "...nem acaba nem começa". His works bring to our conscious awareness those feelings of discomfort and humility that come with sitting with the uncertainty of this question.
Where do we go from here? We need to educate ourselves, we need to learn and act, as H. G. Wells put it “history is a race between education and catastrophe.”
“And you may ask yourself, ‘Well, how did I get here?’” Who, like David Byrne would do, got here by bike?
Rui Soares Costa
Madrid, October 2022
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Versão em Português
Entropia e Transformação - Ou como um conjunto de intervenções artísticas num espaço devoluto nos podem ajudar a responder à grande questão da contemporaneidade: Para onde vamos agora?
A única constante é a mudança.
Heráclito
Não nos iludamos, a mudança é omnipresente – é, foi e será. Até os elementos mais estáveis do universo estão vestidos de mudanças. Há, por exemplo, uma discussão na Física contemporânea sobre se as Leis da Física – o que poderíamos considerar o epítome da estabilidade – poderão ter mudado ao longo da história do universo ou, de forma ainda mais radical, se alguma vez terão existido.
Na verdade, a história, tal a qual a conhecemos, é o registo do conjunto das mudanças. Embora não se trate de um processo linear, é, ainda assim, um processo contínuo. E se houve momentos em que essa mudança foi rápida, a maior parte das vezes assumiu uma forma lenta, quase imperceptível. Aliás, o ritmo desta mudança pode ser encarado como um indicador da atividade humana. Durante centenas de milhares de anos os humanos, bem como a forma como os humanos se organizaram, mudou pouco e, mais importante, mudou a um ritmo muito lento. Nem sempre a humanidade foi esta entidade altamente dinâmica e em constante mudança, num movimento rápido e frenético que observamos na contemporaneidade. Muito pelo contrário. De facto, a lenta mudança ao longo de milhares e milhares de anos teve pouco impacto no contexto envolvente – e.g., ecossistemas e sistemas meteorológicos.
Este processo de mudanças graduais e lentas foi interrompido por um conjunto de revoluções – da revolução neolítica/agrícola à mais recente revolução científica/industrial – a partir das quais o mundo mudou rapidamente. Vejamos, com uma história de cerca de trezentos mil anos, todas as grandes, radicais ou significativas transformações envolvendo a humanidade ocorreram nos últimos doze mil anos, mais precisamente nos últimos duzentos.
Vivemos no período mais dinâmico e frenético alguma vez experienciado por humanos. Uma boa ilustração da intensidade desta mudança é o gráfico que representa a população ao longo do tempo. O número de humanos no planeta mudou pouco e lentamente até às revoluções acima mencionadas, especificamente a revolução industrial há duzentos anos atrás, que desencadeou uma explosão populacional verdadeiramente exponencial. Este período recente, também chamado de grande aceleração dado o rápido, veloz e impetuoso desenvolvimento, conduziu-nos a um momento em que nós, enquanto espécie, causamos desequilíbrios em vários dos sistemas do nosso planeta (desde extinções em massa até alterações climáticas).
O Interstício ou a zona de ninguém: A insustentabilidade dos desequilíbrios
Os desequilíbrios causados pela atividade humana são, por definição, insustentáveis. E não são nada subtis. Nunca no passado os humanos criaram mudanças tão dramáticas nesses sistemas globais, à escala global. Apesar da capacidade de auto-destruição, bem como da destruição da maior parte da vida no planeta (por exemplo, através de uma guerra nuclear), a humanidade sempre teve a solução para tais ameaças devastadoras. Isto é, estas são ameaças potenciais, já que a utilização/não utilização de armas nucleares é uma escolha. No entanto, a ameaça existencial representada pelos contínuos desequilíbrios nos sistemas globais causados pela atividade humana dos últimos duzentos anos não é uma ameaça potencial. E não é um caminho que possamos escolher não percorrer. Já cá estamos, bem metidos nesta longa caminhada e regressar ao início do trilho já não é uma opção. E isto não é um cenário, um entre outros. É a realidade e não temos a chave para este problema.
Longe do anunciado fim da história, vivemos atualmente o momento mais importante já vivido pelos humanos. Estamos num estado liminar, uma suspensão antes de uma mudança importante, radical - esta pode ser uma hipotética definição de contemporaneidade. Ainda há uma significativa parte do mundo que tenta continuar a assobiar para o lado, empurrando o problema com a barriga, esperando que ele desapareça como que por magia. E há os que buscam ativamente por alternativas. Para onde vamos agora?
É neste momento liminar que a contemporaneidade e o T.A.J. se encontram. O planeta e um espaço com 40 metros quadrados. Um espaço como a metáfora que encapsula a maior questão do nosso tempo, para onde vamos agora. O T.A.J. era outra coisa e agora encontra-se num limiar, numa transição, num limbo, onde a criatividade determinará o que acontecerá no futuro.
Para o projeto curatorial procurámos essa ideia de interstício, de híbrido. Artistas que são uma coisa e outra – artistas intersticiais –, artistas que extrapolam as fronteiras de uma disciplina. Um escultor que trabalha essencialmente com desenho, um fotógrafo que faz esculturas fotográficas e um músico que desenha com som para criar objetos sonoros. O interstício como processo.
Para onde vamos agora?
Para onde vamos agora? Quem habitará este espaço? Qual será a sua experiência? Enquanto nos encontramos neste limbo de incerteza e indefinição convidámos três artistas a intervir neste espaço, a explicitar o caminho que vai da espera nesse lugar entre estados (liminaridade), ao momento de inspiração e decisão que implica sempre abrir mão de várias possibilidades (epifania), até ao início de novas formas (emergência).
Começamos com "...nem acaba nem começa" de Rui Horta Pereira. O trabalho de RHP explicita sentimentos de desconforto e humildade que decorrem da incerteza dessa questão.
Para onde vamos agora? Precisamos de nos instruir, de aprender e agir. Ou como disse H. G. Wells, “a história da humanidade torna-se cada vez mais uma corrida entre a educação e a catástrofe.”
Podemos perguntar-nos: “Bem, como é que cheguei aqui?” Quem é que, como o David Byrne faria, chegou aqui de bicicleta?
Rui Soares Costa,
Madrid, Outubro 2022