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ENTROPY AND TRANSFORMATION I
curatorial project by
Rui Soares Costa
exhibition I (external link)
Rui Horta Pereira (external link)
Above eight thousand meters - Or the liminality of the highest peak: What now? Where do we go from here? Part I
Great things are done when men and mountains meet; this is not done by jostling in the street.
William Blake
In the climbing world, whenever mountaineers go above eight thousand meters they enter what is called the "death zone". Here, the rarefied air lacks the sufficient oxygen to keep (most) life. Humans, for example, can only survive those conditions for a few hours in a row. The lack of oxygen reflects on the accelerated breathing and any and all effort seems beyond the abilities of the best, most trained and elite athletes. Moreover, "true" mountaineers make the case to go and climb the eight-thousanders (the name given to the fourteen peaks towering the planet above eight thousand meters) without support of bottled or artificial oxygen.
You prepare and train for weeks, months, years in advance before attempting such a feat. Very few succeed (for example, only nineteen people have ever climbed all the fourteen eight-thousanders without supplementary oxygen). Reading mountaineers about mountains is a powerful learning experience well beyond mountains and men. One of the key lessons, maybe the most important one, is that once you summit you have to go down as soon as possible. Again, above eight thousand meters without supplementary oxygen you will die, it is just a question of time. The process has started, you have to get bellow eight thousand meters quickly before your time is up.
So, the story goes, you prepare for years, you dedicate your life to a summit (or several different ones) and as soon as you get there you have to rush down. Can’t you simply sit down, relax for a while and enjoy the views while shading from the intense sun? Maybe a smoke and a scotch? No way, get the freakin’ down.
We - humans - are currently in similar situation. The way we have been doing business for the past few centuries have taken us to a peak - a beautiful, mesmerising peak. Mankind has reach such highs in so many different domains that it’s truly marvellous to witness the power of knowledge and development. Despite still lagging behind in several key aspects as a global community, from global hunger, to drastic economic asymmetries, lack of freedom or political independence, mankind as gone a long way. But we can’t keep doing business as we did up to this moment. We are above the eight thousand meters and we need to get down. We need to go back to where life regains sustainability.
Rui Horta Pereira’s work in "...nem acaba nem começa” invites us to sit down and relax, contemplate the views while shielding from the strong sun outside… Maybe think a bit about all this. Wait, maybe not… The chairs are made out of hooks and the hats might be rats. What are those guys doing looking at us. “You talkin’ to me?”
Hell no, it’s a trap. A siren calling? Let’s get the f*ck down. We need to get away from here.
Rui Soares Costa
Lisbon, October 2022
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Versão em Português
Acima dos oito mil metros - Ou a liminar idade do pico mais alto: E agora? Para onde vamos agora? Part I
Grandes coisas são feitas quando homens e montanhas se encontram.
William Blake
No mundo da alta montanha e da escalada sempre que os montanhistas ultrapassam os oito mil metros entram naquilo que se convencionou chamar de "zona da morte". Aqui, o ar rarefeito carece de oxigénio suficiente para manter a maior parte da vida. Os humanos, por exemplo, só conseguem sobreviver nestas condições durante algumas horas. A falta de oxigénio reflete-se na respiração acelerada, sendo que todo e qualquer esforço parece estar para além das capacidades dos melhores e mais bem treinados atletas de elite. Ainda para mais, os "verdadeiros" montanhistas procuram escalar os eight-thousanders (o nome dado aos quatorze picos que se elevam no planeta acima de oito mil metros) sem o auxílio de oxigénio engarrafado ou artificial.
Uma pessoa prepara-se e treina durante semanas, meses, anos antes de tentar tal feito. Muito poucos conseguem (e.g., apenas dezanove pessoas escalaram o conjunto dos quatorze picos acima de oito mil metros sem oxigénio suplementar). Ler sobre montanhistas e montanhas é uma aprendizagem fascinante muito além das montanhas e dos homens. Uma das principais lições, talvez a mais importante, é que depois de chegar ao cume é fundamental descer o mais rápido possível. Uma vez mais, acima de oito mil metros sem oxigénio suplementar qualquer pessoa morrerá, é apenas uma questão de tempo. O processo já se iniciou, há que descer abaixo dos oito mil metros antes que o tempo termine.
Uma pessoa prepara-se durante anos, dedica a sua vida a um cume (ou vários) e assim que o atinge tem que descer o mais depressa possível. Não pode simplesmente sentar-se, relaxar um pouco e apreciar a vista enquanto se protege do sol intenso? Talvez um cigarro, um uísque? Não, há que descer e já.
A humanidade está hoje numa situação semelhante. A maneira como nos temos relacionado com o mundo que nos rodeia nos últimos séculos conduziu-nos a um pico - um pico lindo e hipnotizante. Enquanto colectivo alcançámos feitos impressionantes nos mais variados domínios, é maravilhoso testemunhar o poder do conhecimento e do desenvolvimento. Apesar de ainda estarmos dramaticamente atrasados em vários aspectos-chave enquanto colectivo ou comunidade, desde a fome global às drásticas assimetrias económicas, à falta de liberdade ou independência política. Ainda assim, a humanidade percorreu um longo caminho. Mas não podemos continuar como se nada fosse - business as usual. Estamos acima dos oito mil metros e precisamos descer. Precisamos voltar rapidamente para onde a vida recupera a sustentabilidade.
A obra de Rui Horta Pereira em "...nem acaba nem começa” convida-nos a sentar e a relaxar, a contemplar as vistas enquanto nos protegemos do sol forte que faz lá fora… Talvez pensar um pouco sobre tudo isto. Espera, talvez não… As cadeiras são feitas de anzóis e os chapéus podem ser ratazanas. E aqueles tipos, o que é que estão a fazer a olhar para nós?
"You talkin’ to me?" Epá, não, é uma armadilha. O canto de uma sirene? F*da-se, vamos embora. Precisamos sair daqui.
É então que acordas e percebes: aqui é o mundo inteiro.
Rui Soares Costa
Lisboa, Outubro 2022