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AIR SERIES



         part of the curated project REST AND MOVEMENT. UNCERTAINTY


                  by Ana Matos (Salgadeiras Gallery)

                  at JUST MAD


with:

Augusto Brázio

Daniela Krtsch

Rui Horta Pereira

Rui Soares Costa





Rest and movement. Invention.
Just Mad 2021

«inventing Rest.

in the midst of movement, Rest.

It's not an interruption. It's not stopping. It's continuity.

​Movement continues onto Rest that continues onto

Movement that continues onto Rest that continues onto
Movement. to invent movement in rest,
to invent rest in movement.»

- "Invenção" ni "Livro da Dança" de Gonçalo M. Tavares, Relógio d'Água, 2018

Although they can be understood as opposites, rest and movement are like two moments of the circular process that symbolizes the act of creation and life itself. We need the former to scrutinize, look carefully, step out of ourselves, and the latter to materialize that thought, focusing on ourselves, like a dialogue that is invented between otherness and identity. A boomerang is launched from one of the banks. It goes forth and returns, drawing acurve in the air, in a continuous movement attracted by the force exerted by the centre, suspended by the lift upon its wings. It returns, lands on the ground; maybe
it won't return to the same place. Rest after movement.

Movement after rest. "É a hora" / "It's time". The idea of constant transformation came from Lavoisier,
and with Copernicus we learned the central role of the Sun, from which the Earth's rotation is defined. Every 23h 56min 4.095, the Sun shines again on the same point of our planet, slowly and leisurely recording its rays on these sheets of paper by Rui Horta Pereira. Movement after rest. Crossed by a road, Augusto Brázio's landscape of "viagens da sua terra" / "journeys of his land" brings us the centripetal force of the granite monolith or the centrifugal force that separates us from the light. Rest after
movement, the "Paper series" by Rui Soares Costa appears, where multiple papers submerged in resin
unveil different forms on the burned surface. Successive layers of matter that alight, prompting the contemplation of the movement that will have occurred. As for the drawing, it extends in time. Rest after movement in Daniela Krtsch's suspended narratives that summon us to places of seclusion, those "safe havens" were redemption, as a liberating act, is the only possibility. Inspired by her experience and memory as receptacles for her creative process, nursery songs emerge, along with figures whose faces we do not see but which presence we sense.

In "Slowness" Milan Kundera wrote: "There is a secret bond between slowness and memory, between speed and forgetting." From these visual allegories of rest and movement, what places can we devise?


Ana Matos
Lisbon, June 2021





(Versão em Português)

Repouso e movimento. Invenção.

«inventar o Repouso.
No meio do movimento o Repouso.
Não é interrupção. Não é paragem. É continuidade.
O Movimento continua para o Repouso que continua para o Movimento que continua para o Repouso que continua para o Movimento.
inventar o movimento no repouso, inventar o repouso no movimento.»

— “Invenção” in “Livro da Dança” de Gonçalo M. Tavares,

Relógio d ́Água, 2018

Podendo ser entendidos como contrários, repouso e movimento são como dois momentos do processo circular que simboliza o acto de criação e a nossa própria vida. Precisamos do primeiro para perscrutar, olhar com atenção, sairmos de nós mesmos, e do segundo para concretizar esse pensamento, centrando- nos em nós próprios, como um diálogo que se inventa entre a alteridade e a identidade. De uma das margens lança-se um bumerangue. Vai e regressa desenhando uma curva no ar, num movimento contínuo atraído pela força exercida pelo centro, suspenso pela força sobre as suas asas. Regressa, poisa no chão, talvez não venha a ficar no mesmo sítio. Repouso depois do movimento.


Movimento depois do repouso. “É a hora”. Já vinha de Lavoisier a ideia de constante transformação, e de Copérnico viemos a conhecer a centralidade exercida pelo Sol, a partir da qual se define a rotação da Terra. A cada 23h 56min 4,09s o Sol volta a incidir no mesmo ponto do nosso planeta, registando de forma lenta e demorada os seus raios nestas folhas de papel de Rui Horta Pereira. Movimento depois do repouso. Atravessada por uma estrada, a paisagem de Augusto Brázio pelas “viagens da sua terra”, traz- nos essa força centrípeta do monolito de granito ou a centrífuga que nos aparta da luz. Repouso depois do movimento, surge a “Paper series” de Rui Soares Costa onde múltiplos papéis submersos em resina desvendam outras formas na superfície queimada. São sucessivas camadas de matéria que pousam, suscitando a contemplação do movimento que terá ocorrido. O desenho, esse, prolonga-se no tempo. Repouso depois do movimento, são as narrativas suspensas de Daniela Krtsch que nos convocam par esses lugares de recato, esses "portos seguros" onde a redenção, como acto libertador, é a única possibilidade. Inspirada pela sua experiência e memória enquanto receptáculos para o seu processo criativo, surgem sa cantigas de roda, as figuras cujos rostos não vemos mas adivinhamos a existência.


Dizia Milan Kundera, no seu ensaio "A lentidão": "Há um vínculo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento." A partir destas alegorias visuais do repouso e movimento, que lugares poderemos inventar?


Ana Matos
Lisboa, Junho 2021





Há uma água que se transforma em papel. Há uma água salgada que oxida o aço. Há uma água que se pressente. «Uma certa fluidez» coloca em diálogo obras que aqui exploram a fluidez no seu sentido mais literal e representativo, como é o caso da série «Lumen» de Carlos Alexandre Rodrigues, desenhos feitos a óleo e a grafite num estudo de luz e sombra onde os materiais convergem de forma livre e quase espontânea; e das obras «Eclipse» e «Nevoeiro» de Rita Gaspar Vieira, desenhos feitos com água, um dos elementos mais presentes na sua prática artística, em que recorre ao chão do seu quotidiano como repositório de memória e suporte do processo criativo. Também no sentido mais amplo do território do Desenho, a fluidez do conjunto da «Air series» de Rui Soares Costa que explora a ideia de interseção e de complexidade e que reflecte a intervenção do Homem no planeta nesta era do Antropoceno.

Nesta proposta curatorial sugere-se também uma reflexão em torno do devir, de uma espontaneidade da matéria em um processo que, sendo proposto pelo artista, integra em si mesmo um cariz aleatório, explorando o Desenho de uma forma mais expandida. Sobre a pedra de xisto da mina do Lousal, envolto em estruturas oxidadas pelo Rio Tejo ou sobre o papel de algodão, surgem linhas que se inscrevem em superfícies, concretas ou étereas, registando memória (RGV), tempo (RSC), uma relação corpo/suporte (CAR).

«A água é água quando não evapora nem congela. A água lava. A água apaga o fogo. O gelo queima. A água passa entre os dedos. O rio deságua. A água afaga o seixo. A água afoga o que não boia afunda o que não nada. A água do banho vai pro ralo e pra toalha. O ar não se molha na água. O ar vira a água quando orvalha. O rio corre. A água escorre. A água da torneira tem cloro. O fogo vem do fósforo. O calor do chuveiro vem da catarata.» — «A água» de Arnaldo Antunes

Ana Matos
Outubro de 2024

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  July 8 - July 11, 2021

    JUST MAD

    Neptune Palace

    Madrid, ES