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LIFELINE SERIES



         part of the curated project THE GAME OF LOGIC


               by Ana Matos (Salgadeiras Gallery)

                    at JUSTMAD 2019


with:

Cláudio Garrudo

Rui Horta Pereira

Rui Soares Costa



​​
The game of Logic

“Would you tell me, please, which way I ought to walk from here ?” “That depends a good deal on where you want to get to,” said the Cat. “

Alice in the Wonderland”, Lewis Carroll


Beneath her foot-stool, Science groans in Chains,

And Wit dreads Exile, Penalties and Pains.
There foam’d rebellious Logic, gagged and bound,

There, stript, fair Rhet’ric languish’d on the ground.

“The Dunciad“, Alexander Pope


We’ve always been familiar with Lewis Carroll’s smiling cat, his forever-late white rabbit, and Ms Alice, a brave and curious girl who, when going down a hole, is taken to a different reality, her own wonderland. The absurd, the irony, the social critique to Victorian age, and its twisted, less obvious, and elaborate, logic, full of puns and wordplay, make this book, first published in England in 1865, to figure among today’s icons of nonsense, and one of the most read books ever. It has been adapted to film, the stage, and to even lesser known areas, such as AI technology, where its dialog sequences are used to convey notions of function, semantics, recursion, iteration, among others. This more mathematical side of the work, of Logic, is explored further in the book “The Game of Logic”, which we’ve borrowed for this exhibition. Not a novel nor poetry, it is instead an instruction manual for a game, made up by Carroll himself, which uses interactivity - in a time where the concept was not yet developed as such, nor it had material application in the arts – to bring the player/reader/spectator to perform its propositions through a set of symbols and their negations. To these propositions the game adds other complexities: subjects, terminology, things/nouns, attributes/adjectives, thus showing us other ways of saying the world. In the preface to its first edition, Lewis Carroll quotes from Alexander Pope’s poem “The Dunciad” (“There foam’d rebellious Logic, gagged and bound”) to warn us, from the very beginning, what he’s aiming at, in the Age of Lights: to bring Logic back its role and relevance in how we make sense of the world.


In this exhibition, propositions, symbols and their meanings, nouns, tools are of a different nature, even though they intersect each other in this game of logic Cláudio Garrudo, Rui Horta Pereira and Rui Soares Costa are inviting us to play. Each with his own particular lexicon, they have been working on different thresholds to their areas of expression, from photography to painting, from drawing to sculpture, or Philosophy. Here, they are drawing us into the rabbit hole, into Alice’s magical labyrinth, where logic and reason take on different shapes. Cláudio Garrudo’s “Trinus 1142” is the outcome of an artistic residency aboard a cargo ship, where “the sea - [which] is the desert in liquid form” -” [“Sobre a esfera impossível e o azul” , Gonçalo M. Tavares, 2018, our translation]. It gives us the thrill of illusion, and it questions us on its referential, on where it stands, on where we stand. In order to reach the exit, as in a mirror-house, do we go up or down? “Which way should I go?”, asks Alice .

In his tri-dimensional works Rui Horta Pereira explores the drawing-made-object and tempts us to go down these “Wells/Poços”, made of lines, shapes, colour, and paper, in intertwined composition, in some kind of – in his own words - “poetic gravity”. This series, along with “Borrões”, is built upon a set of premises, evidences, formal, metaphorical, from where Alice seems to say “the well makes an echo”. The works in Rui Soares Costa’s “Lifeline Series” are like seismometers to his own body, representing and recording his bio-rhythmic variations and bodily performances that diverge from the line. They are portraits of different moments in a (seeming) paradox between the abstract and the representational. The lines never meet, they have only short interruptions, pauses, in an equation with controlled parameters. Alice seems to hesitate and her heartbeat goes faster in an ever-going line.

It all depends, after all, a good deal on where you want to get to.


Ana Matos
Lisbon, February 2019





(Versão em Português)


​The game of Logic

“Would you tell me, please, which way I ought to walk from here ?” “That depends a good deal on where you want to get to,” said the Cat.

“Alice no País das Maravilhas”, Lewis Carroll


Beneath her foot-stool, Science groans in Chains, And Wit dreads Exile, Penalties and Pains.
There foam’d rebellious Logic, gagged and bound,

There, stript, fair Rhet’ric languish’d on the ground.

“The Dunciad“, Alexander Pope


De Lewis Carroll conhecemos, desde sempre, o gato com sorriso de lua, o coelho que nunca tem tempo, a menina Alice, destemida e curiosa que, ao entrar numa toca, é transportada para uma outra realidade, o seu país das maravilhas. O absurdo, a ironia, alguma crítica social à época vitoriana, e muita da sua lógica, retorcida, menos óbvia, elaborada, com trocadilhos linguísticos e semânticos fazem deste livro, publicado em Inglaterra em 1865, um dos ícones do nonsense, um dos mais lidos de sempre, interpretado/adaptado para cinema, teatro, e, provavelmente menos conhecido, em áreas como a Inteligência Artificial em que, recorrendo aos seus diálogos são transmitidas noções como função, semântica, recursão e iteração, entre outras. Este seu lado mais matemático, em particular da Lógica, revela-se ainda mais no livro “The Game of Logic”, do qual nos apropriámos para esta exposição. Não se trata de um romance ou de um livro de poesia, é antes um manual de instruções para um jogo inventado por Lewis Carroll, que, de forma interactiva, numa altura em que o conceito ainda provavelmente não existia ou tinha materialização concreta, convida o jogador/leitor/espectador a ir representado as suas proposições através de um conjunto de símbolos e das suas negações. A proposições vão- se acrescentando outras complexidades de sujeitos, termos, coisas/substantivos, atributos/adjectivos que nos transportam para uma outra forma de representar o mundo. Recupera Lewis Carroll, no prefácio da primeira edição, o poema “The Dunciad “ de Alexander Pope: “There foam’d rebellious Logic, gagged and bound” onde anuncia, desde logo, ao que vem: devolver à Lógica a sua pertinência e relevância na compreensão do mundo, ou não estivéssemos, então, em pleno Iluminismo.

No caso desta exposição, as proposições, os símbolos e seus significados, os substantivos, os instrumentos são de outra natureza, cruzando-se num jogo de lógica que Cláudio Garrudo, Rui Horta Pereira e Rui Soares Costa nos parecem propor e convocar. Autores de um léxico muito próprio, têm desenvolvido diferentes aproximações formais às suas áreas de expressão, fundindo outros territórios que os levam da fotografia à pintura, do desenho à escultura, ou do desenho à Filosofia, transporta-nos, cada um deles, para a toca do coelho, para o labirinto mágico de Alice, onde a lógica e a razão assumem outras formalidades.

“Trinus 1142” de Cláudio Garrudo, resultante de uma residência artística a bordo de um cargueiro onde o “mar - [que] é deserto em estado líquido -” [“Sobre a esfera impossível e o azul” , Gonçalo M. Tavares, 2018], traz-nos a vertigem da ilusão, interroga-nos sobre o seu referencial, sobre a posição em que se encontra, em que nos encontramos. Para chegarmos à saída, qual plano de espelhos, há que subir ou descer? Qual é o caminho, pergunta-se Alice.

Nas suas peças tridimensionais, Rui Horta Pereira explora a formalização objectual do desenho e tenta-nos a deslizar por estes “Poços”, feitos de linhas, formas, cor e papel, compostos entre si, numa espécie de “gravidade poética”, como refere o próprio. Esta série bem com os “Borrões” assentam num conjunto de premissas, evidências, formais, metafóricas, de onde parece dizer Alice “o poço faz eco”.

As “Lifeline Series” de Rui Soares Costa são como sismógrafos do seu próprio corpo, representando e registando as suas variantes biorítmicas e o comportamento fisiológico que da linha se desprende. São como retratos de vários momentos num (aparente) paradoxo entre a abstração e a figuração. As linhas, essas nunca se tocam, têm pequenas interrupções, pausas, numa equação com parâmetros controlados. Alice parece hesitar e o batimento cardíaco aumenta numa linha que se prolonga.

Afinal, tudo depende de para onde queremos ir.

Ana Matos
Lisboa, Fevereiro 2019



  February 26 - March 3, 2019

    JUSTMAD

    Neptune Palace

    Madrid, ES
    








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