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ANTHROPOCENE & GREAT ACCELERATION


         soundtracks by
          ANDRÉ GONÇALVES



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In his work, Rui Soares Costa has been reflecting on the idea of time, or rather on the idea of the perception of time. We perceive time as a continuous succession of separate events. However, this linear vision of time is an illusion, and, as such, it can be manipulated, distorted, accelerated or decelerated. This malleability of the idea of time has been widely explored by artists over the centuries, but in contemporary times it has gained particular prominence because time has come to be used as a tool and material for the construction of works.

This is the case with the work of Rui Soares Costa. Time is an essential element in his works since his first body of work Sweet series in which the materials used for the creation of the works - wood and sugar - were transformed with the passage of time, without control of the artist’s hand. Time, as in almost everything it touches, also transforms itself into a sculptor.

In the series presented in this exhibition, the action of time also takes on an artistic and creative dimension. It is an active agent in the making of the works, as are the tides and the water of the Tagus River, in the case of Rising (2020 - to the present), or the weather conditions in Casa do Ar (2022).

Issues related to the consequences of human action on the various systems of the planet have long been the subject of Rui Soares Costa’s work, but it is in Rising that the artist focuses on the rise in sea level.

In a recent article in National Geographic online, Christina Nunez stated that “as humans continue to dump greenhouse gases into the atmosphere, the oceans are mitigating the effects. The world’s oceans have absorbed more than 90% of the heat from these gases, but this is affecting our seas - and 2021 has set a new record for ocean warming. Sea level rise is one of the effects of climate change. The average sea level has risen by about 23 centimetres since 1880, with about 7.5 of those centimetres rising in the last 25 years. Every year, the sea rises another 3.2 millimetres. New research, published on February 15, 2022, shows that sea level rise is accelerating and it is estimated that it could rise 30 centimetres by 2050.” It is in the Anthropocene, this geological era centred on man and his action on the planet, that this great acceleration takes place.

Rising is born from the desire to make this change in the rise of the tides visible. Soares Costa positions different objects, first steel plates, then metal totems and papers, strategically on the quay of Olho de Boi. They remain there for days, months or even years. The intervention of the river waters, the oscillation of the tides, transform these objects, as a painter would do on a white canvas. Sometimes the drawing made by the waters is light, almost undetectable, other times it is so deep that it totally transforms the surface of the different materials.

In the different works in this exhibition, the hand of the artist is replaced by the hand of nature. A creative and poetic partnership and dialogue that tells us how only together we can transform the future of our coexistence and of this planet.


Filipa Oliveira

Outubro 2022





(Versão em Português)

Rui Soares Costa tem vindo a refletir no seu trabalho sobre a ideia de tempo, ou melhor sobre a ideia de perceção do tempo. Percecionamos o tempo como sucessão continuada de eventos separados. Contudo, essa visão linear do tempo é uma ilusão, e, como tal, pode ser manipulada, distorcida, acelerada ou desacelerada. Esta maleabilidade da ideia de tempo tem sido amplamente explorada por artistas ao longo dos séculos, mas na contemporaneidade ganhou um relevo particular porque o tempo passou a ser utilizado como uma ferramenta e material de construção das obras.

Assim é o caso com o trabalho de Rui Soares Costa. O tempo é um elemento essencial nas suas obras desde a sua primeira série Sweet series na qual os matérias utilizados para a criação das obras – madeira e açúcar – se transformam com a passagem do tempo, sem controlo da mão do artista. O tempo, como em quase tudo o que toca, transforma-se ele próprio também em escultor.

Nas séries apresentadas nesta exposição, também a ação do tempo ganha uma dimensão artística e criativa. Ele é agente ativo da criação das obras, assim como o são as marés e a água do rio Tejo, no caso do Rising (2020 – até ao presente), ou as condições climatéricas na Casa do Ar (2022).

Questões relacionadas com as consequências da ação humana nos vários dos sistemas do planeta há muito que são tema da obra de Rui Soares Costa mas é em Rising que o artista se debruça sobre a subida do nível da água do mar.

Num artigo recente na National Geographic online, Christina Nunez afirmou que “à medida que os humanos continuam a despejar gases com efeito de estufa na atmosfera, os oceanos vão atenuando os efeitos. Os oceanos mundiais absorveram mais de 90% do calor destes gases, mas isso está a afetar os nossos mares – e 2021 estabeleceu um novo recorde para o aquecimento oceânico. A subida do nível do mar é um dos efeitos das alterações climáticas. O nível médio do mar aumentou cerca de 23 centímetros desde 1880, com cerca de 7,5 desses centímetros a subirem nos últimos 25 anos. Todos os anos, o mar sobe mais 3,2 milímetros. Uma nova investigação, publicada no dia 15 de fevereiro de 2022, mostra que a subida do nível do mar está a acelerar e estima-se que pode subir 30 centímetros até 2050.” É no Antropoceno, nesta era geológica centrada no homem e na sua ação no planeta, que esta grande aceleração tem lugar.


Rising nasce do desejo de tornar visível essa alteração da subida das marés. Soares Costa posiciona diferentes objetos, primeiro placas de aço, depois totens em metal e papeis, estrategicamente no cais de Olho de Boi. Aí ficam dias, meses ou mesmo anos. A intervenção das águas do rio, a oscilação das marés, transformam esses objetos, como um pintor faria numa tela branca. Por vezes, o desenho feito pelas águas é ligeiro, quase indetetável, outras é tão profundo que transforma totalmente a superfície dos diferentes materiais.

Nas diferentes obras desta exposição, a mão do artista é substituída pela mão da natureza. Uma parceria e diálogo criativos e poéticos que nos falam como só juntos poderemos transformar o futuro da nossa coexistência e deste planeta.


Filipa Oliveira

Outubro 2022

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  October 29, 2022 - January 29, 2023

    Capuchos convent

    Almada, PT​​