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RISING
original soundtrack by
André Gonçalves (external link)
«L’inconscient du temps vient à nous dans ses traces et dans son travail. Les traces sont matérielles: vestiges [...] symptômes ou malaises, syncopes ou anachronismes dans la continuité des “faits du passé”.»
Georges Didi-Huberman
Time as a subject, the one that according to the artist "is the only thing we cannot add to existence", has been a constant in Rui Soares Costa's artistic and research process, both from a philosophical and an endogenous perspective, in which his "Lifeline series" stands out: human seismographs that register in parallel lines a time that is not always continuous. Also relevant is "Sweet series", in which sugar, the raw material used in the construction of the work of art itself, becomes a record of the passing of time. By the hands of Rui Soares Costa, time, that abstract entity, has been scrutinized and represented in visual objects using multiple supports and different tools, like paper, wood, fire, sugar, lacquer, pen or chisel.
Probably as a result of his academic training and the practice of the scientific method, underlying each of these different series is an equation of duly specified and registered parameters, later used in the univocal identification of the work of art. In "Rising series", Rui Soares Costa uses the tides of the Tagus River as a drawing tool, oxidizing metallic pieces in a differential way as a result of the rising and descent of the water level, which becomes a fundamental element in this new equation. Each iron plate is submerged in the waters of the Tagus in a specific and pre-defined context: the geolocation, the height relative to the Hydrographic Zero and the period of time. These parameters will allow registering on the plate how long the plate was suspended by the riverside pier near his workshop in Olho de Boi, Almada, incorporating the successive variations of the tides. These oxidised pieces become themselves the memory of a time, the time intrinsic to their creation, which is concomitantly matter of fact and repository.
However, "Rising series" brings us yet another question and is in itself a symptom of a very contemporary circumstance, that of climate changes. In this sense, even if the above parameters were replicated, the oxidation would be different because the plate would be submerged for longer due to the rise in the average water level, which further accentuates the unrepeatability of this recorded time. Returning to Georges Didi-Huberman, the image unveils time, or its unconscious, in a constant dialectic between artist and spectator, between the time of the work and contemporary time, confronting us with the permeability of matter, the fragility of our perenniality and the impossibility of the repetition of time. What is the weight of time, after all?
Ana Matos
Azinhaga, June 2021
“Rising” is an immersive project that has an original soundtrack by André Gonçalves, with extension at Rui Soares Costa's studio, in Olho de Boi, in Almada.
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Versão em Português
«L’inconscient du temps vient à nous dans ses traces et dans son travail. Les traces sont matérielles: vestiges [...] symptômes ou malaises, syncopes ou anachronismes dans la continuité des “faits du passé”.»
Georges Didi-Huberman
O tempo como assunto, aquele que segundo o artista “é a única coisa que não poderemos adicionar à existência”, tem sido uma constante no processo artístico e de investigação de Rui Soares Costa, não só numa perspectiva filosófica como endógena, onde se podem destacar as suas “Lifeline series”, sismógrafos humanos que registam em linhas paralelas um tempo nem sempre contínuo, ou as “Sweet series” em que o açúcar, matéria prima usada na construção da própria obra de arte, vai sendo registo do tempo que passa. Pelas mãos de Rui Soares Costa, o tempo, essa entidade abstracta, tem vindo a ser perscrutado e representado em objectos visuais recorrendo a suportes múltiplos e a diferentes ferramentas, sejam eles papel, madeira, fogo, açúcar, verniz, caneta ou buril.
Provavelmente resultante da sua formação académica e da prática do método científico, a cada uma destas diversas séries está subjacente uma equação de parâmetros devidamente especificados e anotados, usados posteriormente na identificação unívoca da obra de arte. Em “Rising series” Rui Soares Costa recorre às marés do Rio Tejo como instrumento de desenho, oxidando peças metálicas de forma diferencial em resultado do movimento de subida e descida do nível da água que se assume como um elemento fundamental nesta nova equação. Cada chapa de ferro é submersa nas águas do Tejo num contexto concreto e pré-definido: a geolocalização, a altura relativa ao Zero Hidrográfico e o período de tempo. São estes parâmetros que irão permitir registar na chapa a porção de tempo em que a chapa esteve suspensa junto ao cais ribeirinho perto do seu ateliê, no Olho de Boi, em Almada, incorporando as sucessivas variações das marés. Estas peças oxidadas passam a ser elas próprias a memória de um tempo, o tempo intrínseco à sua criação, que é concomitantemente matéria de facto e repositório.
Porém, "Rising series" traz-nos ainda uma outra problemática e é em si sintoma de uma bem contemporânea circunstância que são as alterações climáticas. Nesse sentido mesmo que os parâmetros acima referidos fossem replicados, a oxidação será diferente porque a chapa ficará mais tempo submersa, em virtude da subida do nível médio das águas, o que acentua ainda mais a irrepetibilidade desse tempo registado. Voltando a Georges Didi-Huberman, a imagem desvela o tempo, ou o seu inconsciente, numa constante dialética entre artista e espectador, entre o tempo da obra e o tempo contemporâneo, confrontando-nos com a permeabilidade da matéria, a fragilidade da nossa perenidade e a impossibilidade da repetição do tempo. Afinal, qual é o peso do tempo?
Ana Matos
Azinhaga, Junho de 2021