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Since Rising in 2021, Rui Soares Costa has been increasingly integrating his reflections on contemporary society and humanity into his artistic practice in a more explicit and profound manner. Central to his work is the exploration of what distinguishes our species, particularly our anthropological heritage that encompasses the reverence for the deceased, enabling us to contextualize and represent what no longer exists. Additionally, Rui Soares Costa has shown a keen interest in Timothy Morton’s thesis of hyperobjects, which posits that the complexity of certain phenomena—such as climate change—renders them nearly incomprehensible to humanity.

This framework sets the stage for Stringing the Disconnection, an exhibition featuring recent works from various series that embody his artistic and cognitive engagement with political and social themes. Marking the inauguration of the new Salgadeiras space and celebrating its twentieth anniversary, this exhibition aligns closely with our belief in the gallery as a vital hub for knowledge and reflection. The curatorial concept emerges from the dual premise: on one hand, recognizing human involvement in the profound and significant transformations of the planet that define the Anthropocene, and on the other, acknowledging the intricate and multifaceted nature of contemporary existence, where competing systems and paradigms intersect. To address the world's pressing issues—be they tangible, immediate, or existential—we must employ our cognitive faculties and reconnect with reality, considering the Other(s) in this complex equation, where time plays an essential role.

Time, its representation, and our interpretation of the accelerating pace of life, along with its effects on nature, are interwoven throughout the Paper series, which features multiple sheets submerged in resin, revealing drawings that evolve over time. The Air series delves into intersections and complexities that reflect humanity’s impact on the planet, while the Not There series evokes an absence that may be as significant—if not more so—than presence, illustrated through a succession of parallel and uninterrupted lines. The exhibition’s narrative unfolds like an allegory: an elongated corridor serves as a spine, accentuated by the presence of a (still, already?) dead tree trunk, guiding us from a recent period of profound uncertainty toward a future marked by intricate complexities.

On one side, a photograph of Mehrangarh Fort and Museum in Jodhpur, India, where Rui Soares Costa was an artist-in-residence during the onset of the pandemic in 2021, draws us into a moment of reflection. Nearby lies a tree discovered along the Tagus River close to the artist's studio, suspended 2.5 meters high, symbolizing the most radical projections of sea-level rise by the century's end. On the opposite side, an installation features a steel angle and light, poised at the same increasingly predictable height of 2.5 m, intertwined with fishing lines that echo the context of his artistic endeavors. As we navigate these threads, we catch glimpses of Jodhpur's rooftops—a diffuse landscape where, in the foreground, we again encounter a net of lines, maybe a network, maybe a hammock. Ultimately, complexity can be understood as a layering of simple elements, awaiting dissection, isolation, and revelation. Through these multiple lenses—cognitive, sensory, philosophical—we may find solutions to the challenges we face, which we must not abandon. Just as numbers possess both real and imaginary components, does complexity also embody a tangible and an abstract dimension?

Ana Matos

Lisbon, November 2023
Curator and artistic director of Salgadeiras — Arte Contemporânea


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Versão em Português


Desde Rising, em 2021, que Rui Soares Costa tem vindo a integrar na prática artística de forma mais explícita e profunda o seu pensamento e posicionamento sobre o mundo e o Homem contemporâneos. Desde logo, reflectindo sobre o que é singular na nossa espécie como seja o facto de termos na nossa herança antropológica o culto dos mortos, o que nos permite perspectivar e representar o que já não existe. De igual modo, a Rui Soares Costa muito lhe tem interessado a tese dos hiperobjectos de Timothy Morton na qual se enuncia que, dada a enorme complexidade de certos fenómenos, há como que uma impossibilidade de o Homem conseguir lidar com os mesmos, de que são exemplo as alterações climáticas.

É neste contexto que surge Stringing the disconnection, composta por obras recentes de diversas séries que se encontram no seu pensamento político e social enquanto artista e ser cognitivo. Esta exposição, que inaugura o novo espaço das Salgadeiras e celebra o seu vigésimo aniversário, encontra-se profundamente alinhada com o nosso programa no qual se defende a Galeria, em sentido lato, como um lugar de conhecimento e reflexão. O conceito expositivo parte dessa premissa na qual se assume por um lado, a implicação do Homem na transformação substancial e significativa do planeta, e que esteve na base da nova era do Antropoceno, e por outro, a percepção e aceitação da complexidade do mundo contemporâneo na qual concorrem diversos sistemas e paradigmas. Ou seja, para resolvermos os problemas actuais do mundo, tangíveis, imediatos ou (co) existenciais, necessitamos recorrer à nossa cognição, à conexão com o real, considerando o(s) Outro(s) nesta complexa equação onde o tempo desempenha um papel fundamental.

O tempo, a sua representação ou interpretação, o estado de aceleração que vivemos e o quão isso impacta na Natureza, encontram-se concomitantemente nas séries Paper series, com múltiplos papéis submersos em resina que desvendam um desenho que se prolonga no tempo; nas Air series que explora a ideia de interseção e de complexidade que reflectem a intervenção do Homem no planeta; a série Not there que nos traz uma ausência tão ou mais importante que a presença, numa sucessão de linhas paralelas e ininterruptas. O discurso expositivo assenta numa espécie de alegoria: há um corredor, uma espécie coluna vertebral, acentuada pela presença de um tronco (ainda, já?) morto que nos conduz de um momento recente de grande incerteza até um futuro cuja realidade se caracteriza por uma grande complexidade. De um lado, uma fotografia de Mehrangarh Fort and Museum, em Jodhpur na Índia, onde Rui Soares Costa se encontrava em residência artística quando, em 2021, foi declarada a pandemia. A árvore trazida pelo Rio Tejo e encontrada perto do atelier do Rui Soares Costa, suspensa a 2,5 metros, o cenário mais radical da subida do nível médio das águas do mar até final do século. Do outro lado, uma instalação composta por uma cantoneira de aço e de luz, colocada à cada vez mais previsível altura, e uma teia de fios de pesca que remetem também para o contexto da sua produção artística. Atravessamos estes fios, e olhamos os telhados de Jodhpur, uma paisagem difusa onde, no primeiro plano, encontramos novamente uma rede. Afinal, a complexidade pode ser entendida como uma sedimentação de coisas simples, à espera de serem decompostas, isoladas e reveladas. Desses múltiplos olhares, cognitivos, sensitivos, filosóficos, encontraremos a resolução do problema, da qual não deveríamos desistir. Tal como números, a complexidade também terá uma parte real e uma imaginária?

Ana Matos, Lisboa, Novembro 2023
Curadora e directora artística das Salgadeiras — Arte Contemporânea