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Currently 80% of the world population lives near the water in coastal areas bordering oceans and rivers. The current rise in the average sea level will affect a considerable part of humanity in the foreseeable future. This territorial and morphological revolution is already ongoing. And it will be one of mankind's greatest challenges. Over the millennia, we as civilisation have left our signs and marks on the territory. Cities, metropolis, containment structures, agricultural structures, incineration, extraction and so on. Human beings are animals that build habitats, radically transforming the territory on a global scale. The result of such construction leaves a set of signs and marks. Rui Soares Costa's work in Rising is the exact opposite of such construction. It is a mark of nature, it is the registration of a natural phenomenon - maritime tides - on the construction of an artistic piece. A construction emerging from nature. Fragile and decadent. Strong and fascinating.
We rarely carry these marks of the nature into our lives. We are rarely aware of them, we don't want to build houses with the wind, we don't like the seas to be present in our houses or on our streets, we hide from the strong sun that causes migraines and dehydration, we flee from dense vegetation areas fearing the local fauna and we rarely remember that we live in a shell, a dynamic and uncertain territory of limited resources. Natural elements are forces that we try to stabilise, control or overcome, we try to defend from the them rather than live with them.
RSC's work points to this possibility, this inspiration that perhaps it is possible to build with forces instead of against forces, including them, accepting the marks, accepting corrosion as we are, human and mortal. Accept that we are dust and not gold. We are not pyramids, we are not immortal superheroes and in fact we decay, age and end up disappearing. Both our cities, our homes, our dresses and our skin, age and disappear. We can live with the elements and the decay that surrounds us.
RSC's work Rising is a challenge to accept ourselves as we are without varnish, without artificial stabilisers of ad eternal perpetuation or fears that some higher orders that we do not control are dominant, or that a creation disappears by accepting the natural elements, their action on us and to accept time, degradation, natural life as part of the essential condition of being human. In Rising we are already in a time other than the present. It's time to promote relationships without varnish.
Pedro Campos Costa
2021
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Versão em Português
Actualmente 80% da população mundial vive perto da água, limites marítimos e fluviais. A atual subida do nível médio das águas do mar é algo que afetará diretamente ou indiretamente uma parte considerável da humanidade. Esta revolução territorial e morfológica já está a acontecer. Será um dos maiores desafios da humanidade. Ao longo de milénios de civilização deixámos sinais e marcas no território. Cidades, metrópoles, estruturas de contenção, estruturas agrícolas, de incineração, de extração e por aí fora. O ser humano é um animal que construiu habitat transformando radicalmente o território numa escala global, o resultado dessa construção deixou um conjunto de sinais e marcas. O trabalho do Rui Soares Costa com Rising é uma construção exatamente ao contrário. É uma marca da natureza, é o registo de um fenómeno natural que são as marés para a construção de uma peça artística. Uma construção a partir da natureza. Frágil e decadente. Forte e fascinante.
Essas marcas da natureza, que raramente transportamos para as nossas vidas, quase nunca atendemos a elas, e não queremos construir casas com vento, não gostamos que as marés estejam presentes na nossa casa ou na nossa rua, escondem-nos do sol forte que dá enxaquecas e desidratação, fugimos das zonas densas de vegetação com medo da fauna habitante e raramente nos lembramos que vivemos na carapaça, num território dinâmico e incerto de recursos limitados. Os elementos naturais são forças que tentamos estabilizar, controlar ou vencer, tentamos defender-nos mais do que viver com eles.
A obra de RSC aponta essa possibilidade, essa inspiração de que talvez seja possível construir com as forças em vez de contra as forças, incluir, aceitar as marcas, aceitar a corrosão tal como nós somos, humanos e mortais. Aceitar que somos pó e não somos ouro.Não somos pirâmides, não somos super-heróis imortais e de facto degradamo-nos-nos, envelhecemos e acabamos por desaparecer. Tanto as nossas cidades, como as nossas casas, como os nossos vestidos, como a nossa pele, envelhece e desaparece. Podemos viver com os elementos e a decadência que nos rodeia.
A obra Rising de RSC é um repto para nos aceitarmos como somos sem verniz, sem estabilizadores artificiais de perpetuação ad eternum ou de medos que as ordens que não controlamos sejam dominantes, ou que uma criação desapareça aceitando os elementos naturais, a sua acção sobre nós e aceitar o tempo, a degradação, a vida natural como parte da condição essencial da humanidade. Em Rising já estamos noutro tempo que não o presente. É tempo de nos relacionarmos sem verniz.
Pedro Campos Costa
2021