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At first glance, a significant portion of the gallery floor captures our attention: it is lowered and covered with sand. It is only later that we discern this as Tagus sand—not for its ancient gold-bearing properties, long exploited by the Romans, but as a geographical reference to the riverbank on the southern side, near the Olho de Boi pier, where Rui Soares Costa (1981) meticulously recorded... but recorded what? And how? The outcome of this recording manifests as a series of regularly shaped quadrangular easel paintings, infused with rich, earth-toned materials and complex textures from which no distinct forms emerge.
These works can be seen as metal plates, some entirely and others partially submerged or exposed to the waters of the Tagus, influenced by the river's flow and the rhythm of the tides. Here, the artist's hand takes a backseat, intervening only to attach the plates to the pier, allowing water, humidity, corrosion, and—crucially—time to shape the pieces. Yet, we still consider these to be paintings, akin to the category identified by José Nuno Câmara Pereira (1937-2018): works that appear to exist without a painter or that essentially create themselves. We might also refer to them as traps of materials and time, with varnishes employed to capture and prolong the life of the work by momentarily halting the corrosion process, thus suspending the natural wear of each piece.
In this artist's work, the repetition of a gesture that traces thousands of lines and the raw, immediate violence of fire—evident in previous exhibitions (2017 and 2019)—now resonate with a rhythm that is independent of his will or actions. Instead, it records the continual transformation of matter before our eyes, inviting us to see, feel, and understand it in its evolving state.
José Luís Porfírio
July 2021
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Versão em Português
Num primeiro olhar, a nossa atenção é chamada por uma boa parte do chão da galeria rebaixado e coberto de areia, só mais tarde advínhamos ou supomos tratar-se de areia do Tejo, que está lá não pelas suas antigas qualidades auríferas, já exploradas pelos romanos, mas para nos situar geograficamente na margem do rio, na margem sul, junto ao cais do Olho de Boi, onde Rui Soares Costa (1981) lentamente registou... mas registou o quê?, e como? O resultado desse registo toma a forma aparente de pinturas de cavalete regularmente quadrangularness, ricas de uma matéria densa cor de terra, toda ela texturas ricas de onde não surge qualquer forma.
Tais pinturas são, afinal, outras tantas placas metálicas que estiveram, completamente ou em parte, ora imersas ora emersas no Tejo, segundo o caudal do rio e o ritmo das marés. Aqui não entra a mão do artista, a não ser para prender as placas ao cais para deixar trabalhar a água, a humidade, a corrosão e... o tempo. Mesmo assim podemos ainda chamar-lhe pinturas dentro daquela categoria que José Nuno Câmara Pereira (1937-2018) mostrou entre nós: pinturas aparentemente sem pintor ou que se fazem a si próprias. Poderíamos também designá-las como armadilhas da matérias e do tempo, neste caso tempo fixado por vernizes que deem mais tempo à obra, paralisando ou interrompendo o trabalho da corrosão, i.e., suspendendo, momentaneamente embora, o desgaste de cada peça. Assim, na obra deste artista, à repetição de um gesto quase igual traçando milhares de riscos, ou à violência bruta e rápida, quase imediata, do fogo, presentes em anteriores exposições (2017 e 2019), sucede agora um ritmo que não depende nem da sua vontade nem do seu fazer, mas que regista a contínua mutação da matéria diante do nosso olhar; assim o saibamos ver, sentir e entender.
José Luís Porfírio
Julho de 2021