Rui Soares Costa © 2025 | All Rights Reserved
home/work/texts/pedro_goulão_2019_egoísta_!/...
At the end of his forced journey, the prisoner meticulously marks each passing day on the lime-white walls of his solitary cell—line by line—drawing ever closer, inexorably, to the day of his release, which remains locked within these confines, tangible and yet elusive.
What does it matter if every inmate claims innocence, declaring it as such?
Convicted of a crime, whether I committed it or not, he counts.
Each stroke of his makeshift pen becomes a new form of handwriting, an electrocardiogram of his emotions and existence—almost nothing more than a flatline, reflecting the remnants of his being in the absence of freedom.
Freedom, that elusive concept that is everything to him, becomes increasingly rarefied with each breath he draws, gasping for air as if his cell resides atop the highest mountain.
As long as he does not suffocate, he draws, his free hand clutching a small piece of black stone that he pried from the floor of a desolate mine. He creates lines as close together as possible, driven by a profound fear that the walls, which at night seem to close in and embrace him, may not suffice to contain all the days still left in his captivity.
He understands that if those walls ever fail him, he will descend into madness, lost in an endless, indistinct expanse of time.
This is why he resists, tracing parallel lines that, while similar in every regard, paradoxically retain their uniqueness and, from a distance, remind him of the simple joy of walking in the rain.
Pedro Goulão
June 2019
__________
Versão em Português
Ao fim da jornada forçada, o prisioneiro marca, um a um, meticulosamente, na brancura feita de cal das paredes da sua cela solitária, o dia que passa, aproximando-se, traço a traço, inexoravelmente, de dar como expiada a pena que o confina a ele, que ali está e é.
Que importa, se na prisão todos são inocentes e assim o declaram?
Condenado por um crime, que terá cometido ou não, ele conta.
Cada traço é a sua nova caligrafia, uma espécie de eletrocardiograma daquilo que sente e é, um quase nada, flatliner do que dele sobra, na ausência da liberdade.
Liberdade, esse quase nada que lhe é tudo, a cada inspiração mais rarefeito, e que ele respira, ofegante, com crescente dificuldade, como se a sua clausura se situasse no cume da montanha mais alta.
Enquanto não sufoca, desenha, a mão livre e os dedos crispados no pequeno pedaço de pedra negra, que arrancara ao chão da mina esventrada, criando linhas tão juntas quanto lhe é possível, pois o seu medo, o seu grande medo, é que as paredes que, à noite, se parecem estreitar sobre ele, abraçando-o, não cheguem para conter todos os dias que lhe restam em cativeiro.
Sabe que, quando isso acontecer, enlouquecerá, perdido no tempo tornado perpétuo e indistinto.
Por isso resiste, traçando retas paralelas, que se parecem em tudo semelhantes umas às outras, mas que, paradoxalmente, permanecem singulares e, à distância, lhe recordam o bom que é andar à chuva.
Pedro Goulão
Junho 2019