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  September 24, 2016 - January 31, 2017
 

  FOLIO - Festival Internacional Literatura Óbidos

​  (external link)

  Museu Abílio de Mattos e Silva
  
Óbidos, PT

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Opening
         
September 24
         
4 pm

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LIFELINE SERIES


          part of the collective exhibition

          Utopia, today (external link) 


          curated by

          Ana Matos


with:

Augusto Brázio

Cláudio Garrudo

Hélio Luís

Joanna Latka

Marta Ubach

Paula Almozara

Pauliana Valente Pimentel

Rui Soares Costa

Teresa Gonçalves Lobo

Tiago Casanova


Based in Fernando Pessoa’s “Mensagem” and José Saramago’s “A Jangada de Pedra”


“Europe lies, resting upon her elbows” staring at a peninsula that, as it detached itself from the old continent on its way south, became an island that, as Saramago himself described it, “is a utopia”. The exhibit “Utopia, today” proposes a dialogue between these works by two of the greatest names of our literature: “Mensagem”, by Fernando Pessoa, and “A Jangada de Pedra”, by José Saramago. A reflection on that place that does not exist, that non-possibility of a perfect and ideal world that Thomas Moore chanced on his book and that provides the motto for this 2nd edition of FOLIO.

In Art we often look for signs that help us reveal the world in which we live, put the past in context and envisage a future that may be “for God to know”, as a Portuguese saying states, but is for Men to realize. In this sense, artists, writers, philosophers and thinkers have the extraordinary ability to create new territories, filled with sensitivity, beauty, the essence of human nature, where imagination dilutes into our spirit so that we may accept the invitation for a journey... may it be auspicious.

Presented in two separate groups, intended to spark this reflection through the works of Pessoa and Saramago, each of these ten artists focused his/her soul and thought on the aspects that appealed to him/her the most, whether aesthetical, historical, geographical or political, presenting multiple readings and interpretations which are not to be understood as illustrations, as they go beyond the literary texts that inspire them.

Augusto Brázio presents a diptych from the “Bang!” series, a perambulation though the deepest and more traditional Portugal where the imaginary of an authoritarian past confronts the chandelier that casts light on a “new time”. Rui Soares Costa proposes an ink on paper drawing that evokes Pedro Orce’s seismometer, where all the waves from that device could shatter in the search for a new order. The fragmented and fictional landscapes by Paula Almozara reveal how the drift of this peninsula-turned-island could take place, reminiscent of the Northern beach from where Joaquim Sassa tossed his stone. Tiago Casanova’s installation “Is it a Revolution?... Or just bad weather?!” portraits a natural catastrophe in a very real way while, at the same time, his pertinent question carries us, by way of a metaphor, to a time of revolution, evoking a different “Bad Weather” that also seeks release. “The devil fools with the best laid plan”, by Hélio Luís, takes us to that territory, somewhere – perhaps - between Africa and South America, in an apparent contradiction of conquest and surrender, where one feels the scream that claims that, even if paradoxically, utopia may be possible.

In “À Noite” Marta Ubach explores the mysterious night atmospheres of “Mensagem”, in a monochromatic fog where a lone barge sails through the unknown. Teresa Gonçalves Lobo found her inspiration on the last verse of the poem dedicated to D. Fernando: “And I go forth and the light of the upraised glaive shines / On my calm visage./ Full of God, I do not fear what will come,/ Because come what may, it shall never be / Greater than my soul”. In “Intervalo” Joanna Latka depicts, through this woman, a country that is (always) waiting for King Sebastião, the one who left and became lost in the fog. The work of Pauliana Valente Pimentel brings to mind the discoveries of Afonso de Albuquerque, mentioned in “Mensagem” as “the other wing of the griffon” and whose influence persists to this day on the garments of these Iranian women. In “Trindade”, Cláudio Garrudo registered - in an atmosphere of dream and voyage and in three separate moments, like Pessoa’s work (present, past and future) - the room where the writer passed away, at Hospital St. Louis, in Lisbon. 

Contemporary allegories that represent that utopia or utopias that Fernando Pessoa and José Saramago approached in their seminal works “Mensagem” and “A Jangada de Pedra” and that discuss a time that is also “our own time” since, now and always, “the hour is now!”. 500 years after the publishing of Thomas More’s “Utopia”, 82 years after Fernando Pessoa’s “Mensagem” and 30 years after José Saramago’s “A Jangada de Pedra” what meanings can we find today for the word Utopia? The non-place, in its etymological sense, the projection of a world we claim to be better because it is fairer and more beautiful? Thus, this exhibition proposes reflections not only of aesthetical and artistic nature but also of political and social characteristics around the concept of Utopia because, in the words ofVictor Hugo, “There is nothing like dream to create the future. Utopia today, flesh and blood tomorrow”. In the search for the best and most beautiful meanings for Life and the World, Art being the place where everything is possible.

Ana Matos
Lisbon, September 2016

Curator and artistic director at Galeria das Salgadeiras



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Versão em Português


“A Europa jaz, posta nos cotovelos” fitando uma península que ao se despegar do velho continente, rumo ao Sul, se tornou numa ilha que, como o próprio Saramago dizia ao falar deste seu romance, “é uma utopia”. A exposição “Utopia, hoje” propõe um diálogo entre estas obras de dois nomes maiores da nossa literatura: “Mensagem” de Fernando Pessoa e “A Jangada de Pedra” de José Saramago. Uma reflexão sobre esse lugar que não existe, essa, dir-se-ia, porventura, não-possibilidade de um mundo perfeito e ideal que Thomas More ensejava no seu romance, e que está subjacente na temática desta 2a edição do FOLIO.

Na Arte procuramos, não raras vezes, sinais que nos ajudem a revelar o mundo em que vivemos, a contextualizar o passado, e a perspectivar um futuro que, ainda que o ditado diga que “a Deus pertence”, aos Homens cumpre. E neste sentido, artistas, escritores, filósofos, pensadores possuem a capacidade extraordinária de criar novos territórios repletos de sensibilidade, de beleza, da essência da natureza humana, onde a imaginação se dilui no nosso espírito para que aceitemos o convite para uma viagem, auspiciosa seja ela.

Apresentados em dois núcleos distintos, que pretendem suscitar esta reflexão, através das obras de Pessoa e Saramago, cada um destes dez artistas concentrou a sua alma e pensamento nos aspectos que mais lhe interessavam, sejam estéticos, históricos, geográficos ou políticos, apresentando múltiplas leituras e interpretações, que não devem ser entendidas como ilustrações, porque estão além dos textos literários, ainda que por eles inspirados.

Augusto Brázio apresenta um díptico da série “Bang!”, uma deambulação pelo Portugal mais profundo e tradicional, onde, em certa medida, se confrontam o imaginário de um passado já, então, salazarento com o lustre que projecta para um outro “tempo novo”. De Rui Soares Costa chega-nos um desenho a tinta sobre papel que nos remete para o sismógrafo de Pedro Orce, onde se poderiam partir todas as ondas do dito aparelho na busca de uma outra ordem. Paula Almozara nestas suas paisagens fragmentadas e ficcionadas revela-nos como poderia ser a deriva desta península transformada em ilha, qual praia do Norte onde Joaquim Sassa lançou a pedra. Tiago Casanova com a instalação “Is it a Revolution?... Ou just bad weather?!” retrata, de forma real, uma catástrofe natural, ao mesmo tempo que, com a sua pertinente interrogação, nos transporta, metaforicamente, para um momento de revolução, a lembrar outro “Mau-Tempo” também ele em busca da libertação. “The devil fools with the best laid plan” de Hélio Luís leva-nos a esse território, algures, quiçá, entre África e a América do Sul, numa aparente contradição de conquista e rendição, onde se sente esse grito a reclamar que a utopia pode, ainda que paradoxalmente, ser possível.

Em “À Noite”, Marta Ubach explora os ambientes nocturnos e misteriosos da “Mensagem”, neste nevoeiro monocromático, numa barca solitária que navega pelo desconhecido. Teresa Gonçalves Lobo inspirou-se na última estrofe do poema a D. Fernando: “E eu cou, e a luz do gládio erguido dá / Em minha face calma. / Cheio de Deus, não temo o que virá, / Pois, venha o que vier, nunca será / Maior do que a minha alma.” Em “Intervalo”, Joanna Latka retrata, através desta mulher, um país que se encontra (sempre) à espera do “D. Sebastião”, partido que foi e perdido no nevoeiro ficou. A obra de Pauliana Valente Pimentel remete para as descobertas de Afonso de Albuquerque, referido em “Mensagem” como a “A outra asa do grifo”, e cuja influência ainda hoje persiste nas indumentárias destas mulheres do Irão. Em “Trindade”, Cláudio Garrudo registou, numa atmosfera de sonho e de viagem e em três momentos distintos como a obra de Pessoa (presente, passado e futuro), o quarto onde o escritor viria a falecer, no Hospital St. Louis, em Lisboa.

Alegorias contemporâneas que representam essa ou essas utopias que Fernando Pessoa e José Saramago abordam nestas suas obras de referência, “Mensagem” e “A Jangada de Pedra”, e que falam do tempo que é também o “nosso” já que, afinal e sempre, “É a hora!”. 500 anos passados da publicação de “Utopia” de Thomas More, 82 anos da “Mensagem” de Fernando Pessoa e 30 anos de “A Jangada de Pedra” de José Saramago, que sentidos encontraremos, hoje, para a palavra Utopia? O não-lugar, no seu sentido etimológico, a projecção de um mundo que reclamamos melhor, porque mais justo e belo? Com esta exposição, propõem-se, pois, reflexões de cariz estético e artístico, mas também político e social em torno da Utopia, porque como dizia Victor Hugo: “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”. À procura de melhores e mais belos sentidos para a Vida e para o Mundo, ou não fosse a Arte esse lugar onde tudo é possível.

Ana Matos
Lisboa, Setembro 2016
Curadora / Directora da Galeria das Salgadeiras